Hoje o blog trás pra vocês o texto de um jovem jornalista de Curitiba, Lucas Gualberto da Silva. O breve texto faz referências a diversos livros e autores, uma espécie de homenagem a literatura do mundo.
Divertido e ousado, ele faz uma pequena reflexão sobre o tédio, a vida e sobre como certas pessoas despertam algo novo dentro de nós.
Os Leitores
Karamazov
" No domingo
fui até uma livraria próxima onde pretendia encontrar algum título que me
atraísse, meio como alguém em busca do tempo perdido. Aquela sede de ler algo
no mínimo interessante me conduziu até um corredor onde se encontravam
clássicos da literatura, lá avistei uma garota que não deveria ter mais de 13
anos, cabelos longos e negros, óculos de leitura, corpo bem formado para a sua
idade, uma Lolita. Ela segurava uma edição antiga de Memórias Póstumas de Brás
Cubas, e com aquela ingenuidade fragilizada parecia uma personagem saída de um
conto do Scott Fitzgerald, á o amor é um cão dos diabos.
Parei
para olhá-la. E parada estava ela também. Ficava lendo título por título, mas
não mostrava entusiasmo por nenhum, dona de uma melancolia comovente, era como
se estivesse condenada a cem anos de solidão. Pensava se nós leitores assíduos
viramos todos lobos da estepe, eterno conflito entre o racional e as emoções, a
canção de amor de J. Alfred Prufrock, simples Guerra e Paz. Então ela pega mais
um par de títulos, a apanhadora no campo
de centeio, não consigo ver quais são e por isso me ponho a imaginar quais
seriam. Me ponho a imaginar que conflitos ela trava, se apanha mais do que
meramente um peixe preso dentro do vento, se combate moinhos gigantes, se o seu
fogo enche o ar de faíscas e incendeia quem se aproxima, se lê outros autores
de língua espanhola, me incendiou.
Talvez
este seja nosso crime e castigo, projetar fantasias literárias no tédio e
comodismo cotidiano, pensar que teremos aventuras de grandes personagens, sem
percebermos de que todos eles sofrem o crepúsculo dos ídolos. Lembro de quando
mais jovem, sofri esta metamorfose, uma temporada no inferno, a mesma temporada
que a jovem Dolores virá a passar. Um iluminismo escuro e solitário e pessoal.
Ela leva os livros até o caixa e paga com um cartão, pede para que todos sejam
colocados em embalagens para presente. Felizardos aqueles que vierem a receber
tais presentes, mas me considero com sorte também, pois acabo de descobrir por
quem os sinos dobram, eles dobram por nós."
Texto Lucas Gualberto da Silva.
Fotos: Filme Lolita
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