Inspirações: Lolita

sábado, 21 de setembro de 2013

Lolita

Hoje o blog trás pra vocês o texto de um jovem jornalista de Curitiba, Lucas Gualberto da Silva. O breve texto faz referências a diversos livros e autores, uma espécie de homenagem a literatura do mundo. 
Divertido e ousado, ele faz uma pequena reflexão sobre o tédio, a vida e sobre como certas pessoas despertam algo novo dentro de nós. 

   Os Leitores Karamazov 

" No domingo fui até uma livraria próxima onde pretendia encontrar algum título que me atraísse, meio como alguém em busca do tempo perdido. Aquela sede de ler algo no mínimo interessante me conduziu até um corredor onde se encontravam clássicos da literatura, lá avistei uma garota que não deveria ter mais de 13 anos, cabelos longos e negros, óculos de leitura, corpo bem formado para a sua idade, uma Lolita. Ela segurava uma edição antiga de Memórias Póstumas de Brás Cubas, e com aquela ingenuidade fragilizada parecia uma personagem saída de um conto do Scott Fitzgerald, á o amor é um cão dos diabos.
Parei para olhá-la. E parada estava ela também. Ficava lendo título por título, mas não mostrava entusiasmo por nenhum, dona de uma melancolia comovente, era como se estivesse condenada a cem anos de solidão. Pensava se nós leitores assíduos viramos todos lobos da estepe, eterno conflito entre o racional e as emoções, a canção de amor de J. Alfred Prufrock, simples Guerra e Paz. Então ela pega mais um par de  títulos, a apanhadora no campo de centeio, não consigo ver quais são e por isso me ponho a imaginar quais seriam. Me ponho a imaginar que conflitos ela trava, se apanha mais do que meramente um peixe preso dentro do vento, se combate moinhos gigantes, se o seu fogo enche o ar de faíscas e incendeia quem se aproxima, se lê outros autores de língua espanhola, me incendiou.
Talvez este seja nosso crime e castigo, projetar fantasias literárias no tédio e comodismo cotidiano, pensar que teremos aventuras de grandes personagens, sem percebermos de que todos eles sofrem o crepúsculo dos ídolos. Lembro de quando mais jovem, sofri esta metamorfose, uma temporada no inferno, a mesma temporada que a jovem Dolores virá a passar. Um iluminismo escuro e solitário e pessoal. Ela leva os livros até o caixa e paga com um cartão, pede para que todos sejam colocados em embalagens para presente. Felizardos aqueles que vierem a receber tais presentes, mas me considero com sorte também, pois acabo de descobrir por quem os sinos dobram, eles dobram por nós."

Texto Lucas Gualberto da Silva.






Fotos: Filme Lolita

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